O ano de 1968 é tomado como um ano mítico. Entretanto, pensar a partir dele é refletir sobre as diferentes realidades em que ele aconteceu, sem considerá-lo como um rompimento ou transformação imediata.
Não é raro observarmos a transposição dos símbolos de 1968 de um país a outro, ou de uma realidade específica a outra sem considerar que os movimentos daquele ano não ocorreram pelas mesmas demandas ou que deveriam, necessariamente, ter as mesmas conseqüências.
Quando parte dos estudantes brasileiros, em alguns lugares liderados por universitários, em outros por secundaristas, abriram suas faixas contra a Ditadura levaram consigo significativa solidariedade as suas causas de protesto naquele momento. Mas deixavam uma parte importante e majoritária da sociedade, contrária ou indiferente as suas ações, inclusive, em relação ao campo das produções culturais ou das novas concepções que alguns grupos faziam com relação às tradições familiares.
É necessário considerar as contradições existentes. Geraldo Vandré, por exemplo, antes que sua musica “Pra não dizer que não falei das flores” fosse incorporada como hino das passeatas estudantis, saiu do Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes, antes de 1964. Vandré alegava que a arte não era panfleto.
Assim, as idéias absorvidas como totalizantes sobre a juventude não poderiam ter condicionado toda uma parcela de uma significativa, contraditória e abstrata parcela social em poucos meses, se não por uma providência divina transformadora sobre o plano terrestre.
Imaginar, por exemplo, as convicções libertárias do “é proibido proibir” de um dirigente estudantil em alguma organização clandestina no pós AI-5 ou a declaração de Vladmir Palmeira, de que ainda não havia lido Marcuse, já em meados do ano mítico nos remete pelo menos à necessidade de ampliar o campo da reflexão em relação a esses “acontecimentos”, como são chamados na França.
Quando observamos 1968, sob a ótica das cidades onde ocorreram manifestações, temos que tomar ainda mais cuidado, já que suas realidades não podem ser excluídas da análise ou substituídas pela perspectiva do que poderia ter sido.
As passeatas e as greves que ocorreram em São José Rio Preto, por exemplo, não podem ser analisadas com base na transposição de outras realidades do período, já que justamente o fato de terem ocorrido em uma cidade pequena e do interior, lhe atribui uma diferenciada importância, a exemplo de Catanduva, Presidente Prudente ou Araraquara, cidades relativamente fora das principais redes de agitação do período.
O tamanho e localidade de uma cidade não subtraem importância dos acontecimentos, da adesão do CAF, Centro Acadêmico da antiga FAFI, na greve de um terço da UNE em 1962, ou da fundação, pelos estudantes secundários, do Centro de Debates dos Assuntos do Petróleo em 1948, tanto quanto os acontecimentos de 1968. Não podemos interpretar um recorte do nosso passado o tendo como totalizante ou mecânico, a partir das ações, quando de grupos que se dispuseram ao embate sobre determinadas questões.
Não podemos, quando analisamos o passado, transportá-lo para realidades diferentes, nem tempos que não os seus, sob o risco de torná-lo fora do alcance interpretativo ou da tentativa de interpretação.
André Luiz Mattos
Sociólogo e Historiador
andremattos65@hotmail.com
Não é raro observarmos a transposição dos símbolos de 1968 de um país a outro, ou de uma realidade específica a outra sem considerar que os movimentos daquele ano não ocorreram pelas mesmas demandas ou que deveriam, necessariamente, ter as mesmas conseqüências.
Quando parte dos estudantes brasileiros, em alguns lugares liderados por universitários, em outros por secundaristas, abriram suas faixas contra a Ditadura levaram consigo significativa solidariedade as suas causas de protesto naquele momento. Mas deixavam uma parte importante e majoritária da sociedade, contrária ou indiferente as suas ações, inclusive, em relação ao campo das produções culturais ou das novas concepções que alguns grupos faziam com relação às tradições familiares.
É necessário considerar as contradições existentes. Geraldo Vandré, por exemplo, antes que sua musica “Pra não dizer que não falei das flores” fosse incorporada como hino das passeatas estudantis, saiu do Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes, antes de 1964. Vandré alegava que a arte não era panfleto.
Assim, as idéias absorvidas como totalizantes sobre a juventude não poderiam ter condicionado toda uma parcela de uma significativa, contraditória e abstrata parcela social em poucos meses, se não por uma providência divina transformadora sobre o plano terrestre.
Imaginar, por exemplo, as convicções libertárias do “é proibido proibir” de um dirigente estudantil em alguma organização clandestina no pós AI-5 ou a declaração de Vladmir Palmeira, de que ainda não havia lido Marcuse, já em meados do ano mítico nos remete pelo menos à necessidade de ampliar o campo da reflexão em relação a esses “acontecimentos”, como são chamados na França.
Quando observamos 1968, sob a ótica das cidades onde ocorreram manifestações, temos que tomar ainda mais cuidado, já que suas realidades não podem ser excluídas da análise ou substituídas pela perspectiva do que poderia ter sido.
As passeatas e as greves que ocorreram em São José Rio Preto, por exemplo, não podem ser analisadas com base na transposição de outras realidades do período, já que justamente o fato de terem ocorrido em uma cidade pequena e do interior, lhe atribui uma diferenciada importância, a exemplo de Catanduva, Presidente Prudente ou Araraquara, cidades relativamente fora das principais redes de agitação do período.
O tamanho e localidade de uma cidade não subtraem importância dos acontecimentos, da adesão do CAF, Centro Acadêmico da antiga FAFI, na greve de um terço da UNE em 1962, ou da fundação, pelos estudantes secundários, do Centro de Debates dos Assuntos do Petróleo em 1948, tanto quanto os acontecimentos de 1968. Não podemos interpretar um recorte do nosso passado o tendo como totalizante ou mecânico, a partir das ações, quando de grupos que se dispuseram ao embate sobre determinadas questões.
Não podemos, quando analisamos o passado, transportá-lo para realidades diferentes, nem tempos que não os seus, sob o risco de torná-lo fora do alcance interpretativo ou da tentativa de interpretação.
André Luiz Mattos
Sociólogo e Historiador
andremattos65@hotmail.com